Aceitar é um ato difícil quando se trata de desafios exigentes e inesperados. E num primeiro olhar, parece que estamos a desistir ou a resignar perante algo. Porém, aceitar é o ponto de partida para a elevação de consciência, pois sem essa etapa não poderei estar presente para a realidade do agora e perspetivar possibilidades.
Quando não aceito o que é, coloco-me numa energia de bloqueio, de recusa, de revolta ou até de vitimização perante os acontecimentos. Estes estados emocionais, quando prolongados no tempo, impedem que eu me torne dona da minha vida, das minhas ações e opções, pois fico centrada no passado, mesmo que por segundos, e não me expando para as soluções.
Uma história real:
Durante muitos anos, mantive um processo de não aceitação face ao perfil comportamental, ao nível da comunicação, da nossa filha. Eu não entendia o porquê daquela energia de raiva, zanga e agressividade em muitas circunstâncias do nosso quotidiano. Pensava ‘o que fizemos de errado? – o que levou a isto, quando tem tudo?’ E por tudo entenda-se ter carinho, as suas necessidades básicas satisfeitas, brinquedos, família que a amava, amigos, regras e, acreditava eu, não tinha excessos.
Mas teve. Excesso de atenção, de correções, de imposições, de não aceitação do seu Ser ‘rebelde’, de pais, e de pais que não tinham a mesma visão educativa.
Hoje reconheço os erros.
Hoje sei que não aceitei, e quanto isso alimentou o crescimento dos nossos desentendimentos, e o espelhamento de mim/ nós.
Hoje teria feito tanto diferente.
Hoje aceito com humildade e gratidão esta relação que muito me tem feito crescer, que sem ela jamais poderia partilhar consciência educativa. Sem dificuldades nada sabemos.
Hoje compreendo a reflexão do 1º coach da história:
Só sei que nada sei
– Sócrates
Com ela tenho aprendido o que é o amor incondicional, pois sem ele não teria sobrevivido emocionalmente, nem a nossa família conseguiria manter-se junta por escolha sentida. Estas relações difíceis, assentes em comunicação agressiva, minam tudo o que as rodeia. Depende de nós- pais/educadores-assumir a consciência e responsabilidade de comunicar e agir noutro registo.
Cada dia é um novo olhar para todos nós.
Cada dia é mais uma oportunidade de sermos quem somos de forma autêntica.
E com cada dia vem o encantamento da aceitação e gratidão pelo que é. E com isso, fomos ganhando mais alma e sentido educativo em amor e elevação de consciência.
Hoje respiro as minhas emoções, dando-lhe espaço para as dela.
Hoje observo o meu pensamento e sentir, compreendendo as nossas necessidades.
Hoje penso, comunico e atuo como acredito que deverão ser as relações felizes, de harmonia e respeito. Quase sempre…
Abraço sentido/ liberto
Andreia Carvalho- a tua coach educacional
Boa tarde Andreia Carvalho,
Revi-me no seu testemunho. Tenho um filho de 6 anos e só agora descobri a necessidade de o fazer: libertar-me do pré-concebido, estereotipado, pré-conceito do que é ser educador. A consciencialização está feita. A vontade está imensa. Agora a ação é mais difícil. Porque fica automatizada certa forma de agir, e de reagir também. Mas a cada momento tento mais não reagir e, em vez disso, pensar primeiro. Pensar na intenção, conforme a Andreia falou num video. Pensar na ação concordante com a intenção. Mas o mundo em que estamos inseridos não deixa ninguém parar para pensar. Tudo tem de ser automático. Na estrada não posso abrandar, hesitar numa rua, pensar melhor na decisão de virar à direita ou à esquerda. Na educação também. Surge sempre alguém que nos faz sentir os piores educadores. “havia de ter sido comigo, o filho fala-lhe assim e a mãe deixa e ainda por cima parece ter medo do filho!”. Ou ainda “deixe estar a criança, coitadinha, é tão pequenina!”. Por que razão sinto que estou a falhar? Pelo que os outros me dizem? No meu caso foi mais porque o meu filho me disse. Sobretudo de forma subjetiva. Tive de o observar. De o escutar. Não é este o caminho. Mas porque o meu filho mo mostrou, não porque as outras pessoas mo tenham mostrado. O meu filho mostrou-me e eu soube interpretar por mensagens como a que a Andreia me enviou. Muito obrigada!